sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Teorias do currículo

Para se ter jardins bonitos, não é necessário ter terra e enxada apenas. É necessário sonhar, porque nos sonhos esses jardins já começam a se tornar realidade experimentada por todos, vivida por todos, realidade incorporada aos nossos afetos, às nossas buscas e intenções de luta, aos nossos medos e às nossas superações. Como diz o Rubem Alves, os jardins começam a ser plantados na cabeça dos jardineiros. E, além disso, como também lembra este autor, o jardim é uma festa para o corpo inteiro: tem a festa para a pele, o banho de cachoeira, a cachoeira fria, aquele frio na pele, o vento que passa, aqueles toques... O jardim é aquele lugar onde existe a reconciliação entre o homem e a natureza, é o lugar do prazer e é o lugar da alegria. E assim precisa ser a escola com seus/nossos currículos pelos quais passam nossas histórias, crenças, conflitos, concepções, dúvidas e anseios, espaços e territórios onde precisam estar presentes nossas vozes e silêncios, nosso desejo de falar e nossa fala, nossas possibilidades de encontro e desencontro, nossas disputas e negociações.
Para que isso aconteça, é necessário que a gente esqueça, que a gente raspe o que aprendeu, muitas vezes, na Casa do Estudo onde só falam os-que-sabem-falar, é necessário que a gente se esqueça do que aprendeu, para que a gente consiga se lembrar de uma coisa de que a gente se esqueceu, para reinventá-la e significá-la como parte de nossa vida e de nossa escolha/compromisso com a educação!







A Banda
Eu gostaria, então, que nossos currículos fossem parecidos com a "Banda",
que faz todo mundo marchar sem mandar, simplesmente para falar as coisas do amor. Mas onde, nos nossos currículos, estão estas coisas do amor?
Gostaria que eles se organizassem nas linhas do prazer:
que falassem das coisas belas,
que ensinassem Física com as estrelas, pipas e bolinhas de gude,
a Química com a culinária,
a Biologia com as hortas e os aquários,
Política com o jogo de xadrez,
que houvesse a história cômica dos heróis,
as crônicas de erros dos cientistas,
e que o prazer e as técnicas fossem objeto de muita meditação e experimentação...
Enquanto a sociedade feliz não chega,
que haja pelo menos fragmentos de futuro
em que a alegria é servida como sacramento,
para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente.
Que a Escola, ela mesma, seja um fragmento de futuro
Rubem Alves

5 comentários:

josiel moura disse...

"mulheres e homens, somos os úni-cos seres que, social e histórica- mente, nos tornamos capazes de apreender.Por isso, somos os unicos em que apreender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo mais rico do que meramente repetir a lição dada. Apreender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem a abertura ao risco e à aventura do espírito.(FREIRE)
Para freire o curriculo não se faz para os sujeitos mas sim com eles através do diálogo através da palavra. A palavra dos sujeitos materializa sua concepçãp do mundo. Talvez esse seja o sentido exato da educação: " aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunho de sua história, isto é, biografar-se, historicizar-se".(Fiori in Freire)
Mas,a palavra não pode ser verba-lismo nem ativismo"lança os homens ao debate, ao exame de seus problemas e dos problemas comuns"...
concluindo com Belchior. humano hum(1991)
Quando o mar virar sertão,
nossa palavra será
tão humana como o pão.
E o canto que soar um palavrão
se mostrará como é:
anjo de espada na mão.
Tenho acreditado, que se nossas palavras e reflexões nos levarem a sermos "anjos de espada na mão", ou seja, pessoas inquietas e incorformadas com a barbarie do sistema pelo qual ele reproduz dentro da sociedade/escola relações desiguais, então estaremos ajudando nossos alunos, amigos, colegas a lerem e escreverem um outro mundo com outras letras e olhas; capazes de elaborar propostas que ultrapassem o conformismo e a acomodação. Certamente, alguém pode até pensar que estou devaniando com sonhos - mas os sonhos movem os homens e que "nos sonhos esses jardins já se tornaram realidade - então pensaram certo. è necessário que se sonhe uma nova cartografia do poder, onde aqueles que lutam e constrõem as riquezas desse país - os impescindíveis -poassam desfrutar de uma vida verdadeiramente humana na qual "comida não seja só pão e bebida não seja só água"

Anônimo disse...

Essa refelxão sobre o currículo torna-se importante quando dela se consegue extrair uma solução possível para apagar as dicotomias que esse sistema nos impõe.Concordo que não devemos ser passivos e simplesmente aceitar o sistema e seguí-lo sem questionamentos, porém acredito que muitas discussões perdem-se na falta de atitude e nos limitam a apenas avaliar o que é certo e o que é errado sem que nada efetivamente seja feito pra mudar a situação. Hoje nos encontramos em uma posição que nos proporciona fazer a reflexão, discutir e levar alguma mudança ao sistema e modificá-lo, pois se nenhum de nós conseguir praticar o que discursamos inflamadamente na sala de aula teremos sucumbido ao sistema e dele faremos parte aumentando os abismos que separam os iguais uns dos outros.
Era isso...por enquanto.
Bjos.

josiel moura disse...

para que nossas palavras e reflexões não acabem "sucumbindo no sistema" e concequentemente "aumentando os abismos" societários já existentes, é imprescindivel que se tenha uma grande dose de humanidade, uma grande dose de sentido de justiça e verdade para não cair no dogmatismo barato e no isolamento da massas. "É presciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade viva se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo de mobilização."( epigrafe da agenda do MST 2004)...Portanto nossa dimensão deve ser coletiva e mas com afetividade

josiel moura disse...

mesmo quando não conseguimos atingir aquilo que desejavamos em nossa pratica cotidiana, penso como fernando sabino:
De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos começando,
A certeza de que é preciso continuar e
A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar
Fazer da interrupção um caminho novo,
Fazer da queda um passo de dança,
Do medo uma escola,
Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro,
E assim terá valido a pena existir

Lizi Barbosa disse...

Bha colega, te puxou hein?? Adorei, concorod plenamente. Embora acredite que é preciso insistir nas nossas convicções, mesmo que ninguém mais partilhe dos nossos anseios.